Enfim, minha
memória fez-me valer. A história sobre o mês de Agosto é pano de fundo para
falar do calor, da poeira, da seca que secou a chuva e me faz cativo da limpeza.
Mas os verdadeiros personagens dessa narrativa são os carapanãs. Desde que
comecei a escrever [muita coisa foi suprimida, muita coisa foi reinventada], tinha
como objetivo falar desses heróis da esquerda – ou da direita – não sei, não
sei. Sei que eles estavam a me comer vivo. E o tempo ajuda. A falta de chuva
foi o advento dos carapanãs. E foi assim que me fiz mais triste, mais inquieto
e o silêncio que já era grande aumentou, aumentou também a minha vontade de
escrever relatos, por acaso pensei: falar sobre a minha desinteressante vida:
pois sei que alguém, que me lê, pode indagar: o porquê de tais palavras –
sinceramente, não há razão, estou apenas a extravasar a sensação de meu peito.
Deposito nas palavras o que sinto, o que não sinto, o que penso sentir e depois
de alguns dias descubro que é engano, tudo puramente ilusão – e lembro-me do
poeta: iludir-se é viver também e que a vida é matéria para alegrias. Resta-me
inventar. O mundo já está feito. E os carapanãs provam-me isso, ao provarem a
mim, e eu só posso ligar o ventilador, assustá-los. E será por aqui que quero encerrar o meu mês
de Agosto, sem antes dele mesmo ter se findado – para mim já foi o bastante, já
escrevi o muito do pouco que me lembrei. A chuva só virá no fim do ano e até lá
farei novos planos e, provavelmente, sofrerei outros enganos. A vida é continuar.
Abençoado o homem que se permite ao delírio, ao lírio do lirismo que há no que é
de vida.
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