sábado, 25 de agosto de 2012

Nada de interessante parte 3: O silêncio do tempo

Estou segurando-me. Sinto-me indiferente a mim. É tão estranho. É tão humano: e ser humano é tão assustador, aliás, se se sentir indiferente à sua humanidade é mais assustador. O silêncio do tempo me toma, me ganha, me faz prisioneiro de mim. Covardemente, tento desprender um grito – gritar a mim: acordar os demônios que querem à minha alma, mas, de repente, uma paz cruel e fria e assustadora me incomoda. A inquietação do silêncio das horas me deixa mais atormentado: e um suspiro me salvaria, um suspiro seria o golpe de misericórdia, mas nada, nada me recupera; tudo me atropela, as velas de minha falta de sorte estão apagadas. Um vento perturbador sopra em mim mais frieza e tormento. Lembro-me que esse relato era sobre o mês de Agosto, sobre a secura que me tomou desde o início desse mês, mas eu perdi o controle. Nunca consegui me controlar, sempre vivi me evitando: e agora não sei como voltar ao que eu era antes mesmo de me ignorar. Passei anos e anos acreditando que eu poderia mudar, mas cá estou eu novamente fazendo tudo de novo. Cansei de pedir perdão. Cansei de me torturar com coisas que não podem me salvar. Lembro-me da morte de Jesus. Lembro-me da morte de minha pureza, das noites que eu vivi com um cara e depois corria para a igreja para humilhar-me pelo pecado. E o silêncio do tempo traz à tona as minhas memórias, as histórias que eu inventei, as que não inventei, e ouço as vozes do passado gritando os erros do presente. No presente fico ausente e assim não sei o que será de mim no futuro. Tudo passa pelo terrível crivo das horas. O tempo vê a mim com horror ou então deve rir de minha fraqueza, da tristeza forjada para me distrair. Ser feliz me cansa. E a poeira, que também é seca, me ganha.   

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