Estou segurando-me. Sinto-me indiferente a mim. É
tão estranho. É tão humano: e ser humano é tão assustador, aliás, se se sentir
indiferente à sua humanidade é mais assustador. O silêncio do tempo me toma, me
ganha, me faz prisioneiro de mim. Covardemente, tento desprender um grito –
gritar a mim: acordar os demônios que querem à minha alma, mas, de repente, uma
paz cruel e fria e assustadora me incomoda. A inquietação do silêncio das horas
me deixa mais atormentado: e um suspiro me salvaria, um suspiro seria o golpe
de misericórdia, mas nada, nada me recupera; tudo me atropela, as velas de
minha falta de sorte estão apagadas. Um vento perturbador sopra em mim mais
frieza e tormento. Lembro-me que esse relato era sobre o mês de Agosto, sobre a
secura que me tomou desde o início desse mês, mas eu perdi o controle. Nunca
consegui me controlar, sempre vivi me evitando: e agora não sei como voltar ao
que eu era antes mesmo de me ignorar. Passei anos e anos acreditando que eu
poderia mudar, mas cá estou eu novamente fazendo tudo de novo. Cansei de pedir
perdão. Cansei de me torturar com coisas que não podem me salvar. Lembro-me da
morte de Jesus. Lembro-me da morte de minha pureza, das noites que eu vivi com
um cara e depois corria para a igreja para humilhar-me pelo pecado. E o silêncio
do tempo traz à tona as minhas memórias, as histórias que eu inventei, as que não
inventei, e ouço as vozes do passado gritando os erros do presente. No presente
fico ausente e assim não sei o que será de mim no futuro. Tudo passa pelo terrível
crivo das horas. O tempo vê a mim com horror ou então deve rir de minha
fraqueza, da tristeza forjada para me distrair. Ser feliz me cansa. E a poeira,
que também é seca, me ganha.
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