Enfim, minha
memória fez-me valer. A história sobre o mês de Agosto é pano de fundo para
falar do calor, da poeira, da seca que secou a chuva e me faz cativo da limpeza.
Mas os verdadeiros personagens dessa narrativa são os carapanãs. Desde que
comecei a escrever [muita coisa foi suprimida, muita coisa foi reinventada], tinha
como objetivo falar desses heróis da esquerda – ou da direita – não sei, não
sei. Sei que eles estavam a me comer vivo. E o tempo ajuda. A falta de chuva
foi o advento dos carapanãs. E foi assim que me fiz mais triste, mais inquieto
e o silêncio que já era grande aumentou, aumentou também a minha vontade de
escrever relatos, por acaso pensei: falar sobre a minha desinteressante vida:
pois sei que alguém, que me lê, pode indagar: o porquê de tais palavras –
sinceramente, não há razão, estou apenas a extravasar a sensação de meu peito.
Deposito nas palavras o que sinto, o que não sinto, o que penso sentir e depois
de alguns dias descubro que é engano, tudo puramente ilusão – e lembro-me do
poeta: iludir-se é viver também e que a vida é matéria para alegrias. Resta-me
inventar. O mundo já está feito. E os carapanãs provam-me isso, ao provarem a
mim, e eu só posso ligar o ventilador, assustá-los. E será por aqui que quero encerrar o meu mês
de Agosto, sem antes dele mesmo ter se findado – para mim já foi o bastante, já
escrevi o muito do pouco que me lembrei. A chuva só virá no fim do ano e até lá
farei novos planos e, provavelmente, sofrerei outros enganos. A vida é continuar.
Abençoado o homem que se permite ao delírio, ao lírio do lirismo que há no que é
de vida.
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
sábado, 25 de agosto de 2012
Nada de interessante parte 3: O silêncio do tempo
Estou segurando-me. Sinto-me indiferente a mim. É
tão estranho. É tão humano: e ser humano é tão assustador, aliás, se se sentir
indiferente à sua humanidade é mais assustador. O silêncio do tempo me toma, me
ganha, me faz prisioneiro de mim. Covardemente, tento desprender um grito –
gritar a mim: acordar os demônios que querem à minha alma, mas, de repente, uma
paz cruel e fria e assustadora me incomoda. A inquietação do silêncio das horas
me deixa mais atormentado: e um suspiro me salvaria, um suspiro seria o golpe
de misericórdia, mas nada, nada me recupera; tudo me atropela, as velas de
minha falta de sorte estão apagadas. Um vento perturbador sopra em mim mais
frieza e tormento. Lembro-me que esse relato era sobre o mês de Agosto, sobre a
secura que me tomou desde o início desse mês, mas eu perdi o controle. Nunca
consegui me controlar, sempre vivi me evitando: e agora não sei como voltar ao
que eu era antes mesmo de me ignorar. Passei anos e anos acreditando que eu
poderia mudar, mas cá estou eu novamente fazendo tudo de novo. Cansei de pedir
perdão. Cansei de me torturar com coisas que não podem me salvar. Lembro-me da
morte de Jesus. Lembro-me da morte de minha pureza, das noites que eu vivi com
um cara e depois corria para a igreja para humilhar-me pelo pecado. E o silêncio
do tempo traz à tona as minhas memórias, as histórias que eu inventei, as que não
inventei, e ouço as vozes do passado gritando os erros do presente. No presente
fico ausente e assim não sei o que será de mim no futuro. Tudo passa pelo terrível
crivo das horas. O tempo vê a mim com horror ou então deve rir de minha
fraqueza, da tristeza forjada para me distrair. Ser feliz me cansa. E a poeira,
que também é seca, me ganha.
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
Nada de interessante parte 2: o meu amor pela literatura [a visita]
...Como eu já havia dito antes, não há nada de especial nesse mês
e mesmo assim eu, que tenho 21 anos e [pareço ter mais, as pessoas sempre me
dizem isso], amo literatura: em especial a poesia; não que eu não nutra amor
pela prosa e as canções, pelo contrário. Tudo que é literário atrai-me de certa
maneira.
Seguindo a minha
rotina de acordar-lavar-e-cozinhar, eu vivo de leituras e de observar as
pessoas que passam em frente à minha casa; impossível é não reparar, moro numa
casa de esquina, que por sinal é aberta. Essa liberdade me possibilita várias
visões, mas não é sobre isso que quero falar... Estou apenas enrolando... É
assim que eu vivo: vivo-me nessas invenções, ilusões... Tudo em minha vida é
matéria para prosa.
E falando em
prosa. Lembro-me que visitei uma amiga muito especial. O nome não citarei. Quando
nós nos encontramos o papo flui duma forma tão natural e intensa - coisa de
alma. Literatura, filosofia, religião, falamos sobre praticamente tudo. Ela é a
melhor pessoa que me entende. E somos tão diferentes: deve ser essa à
explicação plausível para tanto entendimento. Não que não haja discórdia,
sim, há, mas até no lado avesso a gente encontra um modo de se entender.
Nessa visita
falamos muito no personagem que ainda não dará sua graça por aqui: os
carapanãs. [aguardem...] E o tempo seco. O mês de Agosto que tirou o gosto da
chuva. Tirou o gosto gostoso que era limpar a casa. Minha limpeza tornou-se
inquietação. O que antes me trazia paz, agora me causa tormento. Mas na vida
sempre há dois lados: em tudo há! Com minha amiga consegui encontrar horas de
alento. Sentir o sabor do vento sem queixar-me da poeira erguida e da
rotina.
Perdi o foco de
novo. E eu digo: não encontrarás em mim lógica. Sou desses incertos e
repentinos. A qualquer momento posso mudar o movimento e esquecer-me da forma.
Assim segue a minha nada interessante narrativa sobre o tempo seco que é esse
mês.
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Nada de interessante - parte 1
Deu-me uma vontade de falar sobre esse mês: Agosto. Nada de
especial. Nada de sublime nesse mês seco, que seca minha boca e faz da poeira
minha inimiga - aliás, quando fomos amigos? E o engraçado é que não há graça. O
mês está se findando e eu tive à vontade: veio-me como um desejo irresistível -
e como sou fraco, cedo a tudo - pelo menos a quase tudo, resolvi escrever.
... Então começou o mês de Agosto.
Era uma vez o mês de Agosto. [estou indeciso, não sei qual o melhor modo de
começar isso e isso é tão importante para mim: e para quem ler será tão idiota,
será tão: ele não tem nada de bom para oferecer - e mesmo assim eu ficarei
feliz, pois tudo isso sou eu: inútil e necessário - a última parte vou ficar
devendo - quem é que nunca deixou uma conta em branco?]
...O mês que seca tudo, inclusive à
chuva que não desce, faz do sol meu algoz. E as donas de casa ficam irritadas
com tanta água que é gasta, na tentativa frustrada de amenizar a poeira - e
nada; é mais do que necessário paciência, pois, meu Deus, quem sobrevive sem
nenhuma crise de tosse, é um verdadeiro herói. Eu, que me chamo Joémerson,
vagabundo por natureza e poeta por distração, fico louco com tudo isso, mas
tenho de reconhecer minha pequeneza diante das coisas que são maiores do que
eu: e a lição que fica é: respeito.
Outro personagem que povoará essa
história são os carapanãs. Ah, eles são duros na queda, sem contar que andam
sempre juntos, cantam e se alimentam de nós. Tudo isso misturado à seca total:
sem chuva, sem amor, com calor, com desejo e os meus medos: ou seja, uma vida
totalmente humana. Assim segue o começo malfeito dessa narrativa. Prometo
mais coerência e coesão a partir das próximas.